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É verdade que frutose em excesso causa cirrose não alcoólica?

21/01/2025 às 17:15

Apesar de não ser tão divulgada quanto sua “irmã”, a cirrose não alcoólica mata e pode ser causada pelo excesso de consumo de frutose, mas calma, não se preocupe com as frutas que você consome, a gente explica. É uma doença silenciosa, que pode demorar até 20 anos para se desenvolver e começa como uma gordura no fígado.

Além da ingestão excessiva de frutose, conhecido como “açúcar das frutas”, aumentam os riscos do desenvolvimento e mais rápida será a progressão da cirrose não alcoólica se o paciente não fizer atividade física, ou tiver alguma condição como diabetes, obesidade ou colesterol alto.

Atenção: a frutose é um açúcar que vem das frutas, mas não são elas as causadoras da cirrose, mas, sim, a frutose artificial presente em bebidas e alimentos processados. A frutose industrial é extraída do xarope de milho e não possui nenhuma propriedade nutricional.

Mesmo que você pense: E se eu comer muitas frutas por dia, corro risco de desenvolver cirrose não alcoólica?

De acordo com Rosangela Passos de Jesus, professora da Escola de Nutrição da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Edmundo Lopes, professor de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e ex-presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), não, pois as frutas têm pouca porcentagem de frutose, e a fibra presente nelas ajuda na diminuição da absorção de colesterol, gorduras e açúcares.

Então, definitivamente, as frutas não estão associadas com o desenvolvimento de esteatose e esteatohepatite não alcoólica. O excesso de consumo de frutas está bem longe da realidade do nosso país. Segundo a OMS, a população adulta deveria ingerir cinco porções de frutas, verduras e hortaliças por dia, mas apenas 24% dos brasileiros costumam comer essa quantidade recomendada.

O que realmente deve gerar preocupação, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem de VivaBem, além das bebidas e alimentos processados, como refrigerantes e enlatados, é o mel, que é feito com quase 40% de frutose, e o xarope de milho, que é um tipo de açúcar artificial utilizado em ampla escala pela indústria como conservante e flavorizante de diversos produtos alimentícios.

Como a doença hepática gordurosa pode evoluir para cirrose? A cirrose não evolui rapidamente e deriva de uma gordura no fígado conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica. Apesar de a maioria dos pacientes com cirrose não apresentarem sintomas no começo, eles podem sentir muito desconforto abdominal no lado direito, fadiga e cansaço.

Afetando de 25% a 30% da população mundial, a morbimortalidade associada a essa doença tem aumentado junto com o crescimento do excesso de peso na população. “Conforme evolui, pode virar um esteatose hepática levando a uma inflamação no fígado, que pode gerar a fibrose no fígado, que é uma cicatriz. Conforme a progressão da fibrose pode ser desenvolvida a cirrose, explica Renato Altikes, hepatologista do Hospital Santa Catarina (SP). Ainda segundo Altikes, conforme a doença vai avançando, além de mudar o funcionamento do fígado, também altera a vascularização dos rins. O sangue terá mais dificuldade de passar na região em razão do.

endurecimento do fígado e pode gerar a chamada hipertensão portal (aumento anormal da pressão sanguínea na veia que transporta o sangue do intestino ao fígado) gerando consequências mais graves: varizes no esôfago e formação de líquido na barriga com risco de ter sangramento, olhos amarelados e aparecimento de hematomas com facilidade.

O fígado passa a produzir menos proteínas e ter menos capacidade de limpar as toxinas do sangue. Quando a pessoa está com a cirrose mais avançada ainda, os órgãos começam a parar de funcionar porque eles dependem do fígado. A frutose pode causar a cirrose não alcoólica porque, diferentemente da glicose, outro açúcar que é transformado em energia por qualquer célula,presente no nosso corpo, a primeira só pode ser metabolizada pelo fígado. Mesmo tendo causas diferentes, segundo Lopes, do ponto de vista fisiopatológico, a esteato-hepatite alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica são muito parecidas, tanto que o médico só saberá qual é a doença se o paciente disser que bebe ou não, por exemplo.

Como evitar o desenvolvimento da doença

Assim como as doenças crônicas e o sedentarismo podem acelerar a progressão da cirrose não alcoólica, bebidas alcoólicas também podem. Para evitá-la, o ideal também é evitar ingerir produtos processados e ultraprocessados ao longo do dia.

Além da recomendação diária de 30 minutos de atividade física, a OMS indica que a pessoa consuma no máximo 10% das calorias diárias provenientes de açúcar, seja ele de qualquer tipo, inclusive de frutose. Considerando uma dieta de 2.000 calorias, esse percentual equivale a 50 gramas de açúcar por dia (cerca de dez colheres de chá), com cada grama de glicose e frutose produzindo quatro calorias, segundo Lopes.

As frutas secas ou desidratadas como figos, maçãs, uvas, manga e abacaxi são alimentos ricos em frutose concentrada, o que aumenta o nível total de açúcar nessas frutas secas. Uma porção de 100 g de uvas-passas, por exemplo, contém aproximadamente 30 g de frutose.

Apesar das frutas não serem responsáveis pela cirrose, a nutricionista da UFBA chamou a atenção para a tâmara: por ser uma fruta com alto índice de frutose, com 32 g presentes a cada 100 g do alimento, deve ser consumida com moderação.

Mesmo para quem já tem a doença hepática gordurosa não alcoólica, Passos de Jesus recomenda a ingestão de três porções por dia de frutas frescas.

Alimentos com mais frutose

Refrigerante

Molho de tomate

Biscoito

Sorvete

Chocolates

Barra de cereal

Pães adocicados

Bolos

Achocolatados

Iogurtes industrializados

Ketchup

Geleias

Cereais matinais

Comidas congeladas

Enlatados

Molhos

Caldas e coberturas

Sucos naturais ou industrializados de frutas, principalmente elaborados com pera, manga, laranja, tangerina e maçã

Só para ter uma ideia, Passos de Jesus listou a quantidade de frutose artificial em alguns produtos industrializados:

Xarope de milho: de 42 g a 55 g.

Molho barbecue: 17,5 g.

Cereal matinal de milho com açúcar: 12,3 g.

Suco de uva: 7,3 g.

Cookie de chocolate: 6,3 g

Coca-Cola: de 250ml contém em torno de 20 g.

Fatia pequena de goiabada: aproximadamente 8 gramas de frutose.

1 copo de 200 ml de refrigerante ou bebida açucarada tipo néctar: tem aproximadamente 10 gramas de frutose.

Frutose x frutas

Passos de Jesus recomenda dar preferência à ingestão das frutas naturais, de forma equilibrada, em substituição aos sucos, doces e geleias.

Os vegetais como tomate, repolho, aspargos, cebola, pepino, beterraba, cenoura, milho, abóbora e batata doce apresentam baixo teor de frutose em relação a outros alimentos, sendo que geralmente contém aproximadamente 1 g a 2 g de frutose por 100 g de alimento.

Se você seguir a recomendação da OMS, comendo de três a cinco porções de frutas por dia, isso pode propiciar a ingestão entre 6 e 36 gramas de frutose. Tendo isso em vista, é possível entender que a quantidade de frutose proveniente da ingestão de frutas não é elevada quando comparada à ingestão deste açúcar a partir de alimentos industrializados, que apresentam grande concentração de frutose artificial.

Além disso, a profissional listou frutas, verduras e grãos versus a quantidade de frutose presente. Manga: em uma unidade de tamanho médio contém aproximadamente 8 g desse açúcar.

Ameixa: a cada 100 g contém 3,8 g de frutose.

Caqui: uma fruta de tamanho médio oferece 6,4 g de frutose ao organismo.

Maçã: uma unidade média da maçã contém 9,5 g de frutose, sem casca diminui para 6,4 g.

Banana: uma fruta de tamanho médio contém 7,1 g de frutose.

Laranja: a cada 100 g contém 4,4 g de frutose.

Tangerina: proporciona 4,8 g de frutose por unidade de tamanho médio.

Caqui sem casca: tem 5,5 g.

Milho: uma unidade de 100 g tem 2,5 g de frutose.

Tomate: em 100 g do fruto contém 1,3 g.

Feijão verde: tem 1,6 g deste açúcar.

Batata inglesa pequena: em uma unidade apenas 0,26 g.

Melancia: em 100 g tem 4 g.

Fonte: Viva Bem uol