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Saiba qual é a melhor estratégia para eliminar a gordura no fígado

24/11/2025 às 16:45

Especialistas explicam como a resistência à insulina, controle glicêmico e novas terapias metabólicas atuam na esteatose hepática

A gordura no fígado, conhecida como esteatose hepática ou fígado gorduroso, se tornou um dos problemas mais comuns da atualidade, impulsionado pelo avanço da obesidade, pré-diabetes, diabetes tipo 2 e hábitos alimentares ricos em ultraprocessados.

Embora muitos pacientes descubram a condição por meio de exames de rotina, especialistas alertam que a doença pode evoluir silenciosamente e, sem tratamento, progredir para inflamação, fibrose e até cirrose. Por isso, entender qual é a melhor estratégia para eliminar a gordura e restaurar a função hepática é essencial.

O ponto central da doença está no metabolismo: quando o corpo passa a responder mal à insulina — condição chamada resistência à insulina —, o fígado é diretamente afetado.

É ele quem tenta compensar o descontrole glicêmico produzindo mais glicose e, ao mesmo tempo, convertendo parte desse excesso em gordura. Com o tempo, o órgão entra em sobrecarga, acumulando triglicerídeos nas células hepáticas.

A endocrinologista Daniela Gebrim explica que a falta do controle da glicose, associada à resistência à insulina, leva o fígado a produzir e acumular gordura, a chamada esteatose hepática.

“O primeiro passo metabólico para reverter esse processo é melhorar a sensibilidade à insulina por meio da perda de peso e do controle glicêmico, interrompendo esse ciclo de acúmulo de gordura hepática”, explica a médica.

O que é gordura no fígado?

Popularmente chamada de gordura no fígado, a esteatose hepática acontece quando as células do órgão acumulam gordura em excesso.

Nos estágios iniciais, a condição costuma ser silenciosa e não apresenta sintomas evidentes.

À medida que progride, porém, podem surgir dores abdominais na parte superior direita do abdômen, cansaço, fraqueza, perda de apetite, aumento do fígado, inchaço na barriga, dor de cabeça frequente e dificuldade para perder peso.

As principais causas estão relacionadas à obesidade, à diabetes, ao colesterol alto e ao consumo excessivo de álcool.

A doença é mais comum em mulheres sedentárias, já que o hormônio estrogênio favorece o acúmulo de gordura no fígado. Ainda assim, pessoas magras, que não bebem, e até crianças também podem desenvolver a condição.

Esse mecanismo explica por que a abordagem mais eficaz para eliminar a gordura no fígado começa, obrigatoriamente, pela correção do metabolismo. Não se trata apenas de reduzir calorias, mas de reorganizar a forma como o corpo lida com a glicose.

Quando a sensibilidade à insulina melhora, o fígado deixa de produzir gordura em excesso e passa a direcionar energia corretamente, permitindo que o órgão reduza o acúmulo lipídico.

É nesse contexto que entram os medicamentos modernos usados no manejo metabólico. Os agonistas de GLP-1 — como a semaglutida — e os agonistas duplos GIP/GLP-1 — como a tirzepatida — ganharam destaque por promoverem perda de peso consistente, melhora do controle glicêmico e redução direta da gordura hepática.

A endocrinologista Marília Bortolotto, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforça que esses medicamentos são indicados principalmente para pessoas com obesidade, diabetes tipo 2 ou doença hepática associada à disfunção metabólica.

Essas terapias ajudam a reduzir o acúmulo de gordura no fígado e podem até retardar a progressão da fibrose. Bortolotto alerta ainda para a influência dos hábitos alimentares: “O excesso de carboidratos, açúcar e ultraprocessados estão entre os maiores inimigos da saúde do fígado”.

Outra recomendação importante da especialista é o consumo moderado de café. “A ingestão de até duas xícaras de café por dia pode oferecer proteção contra fibrose e câncer de fígado a longo prazo”, afirma.

Segundo as especialistas, a perda de peso é um marcador decisivo na reversão da doença. Quando reduzimos ao menos 5% do peso corporal, a gordura hepática já diminui significativamente. A partir de 7%, observa-se redução de inflamação, e perdas acima de 10% estão associadas à regressão de fibrose em estágios iniciais — um ponto essencial para evitar evolução para cirrose.

Ao mesmo tempo, identificar quem tem maior risco de progressão é fundamental. Pessoas com diabetes tipo 2, resistência à insulina grave, obesidade, dislipidemia ou transaminases persistentemente elevadas fazem parte do grupo que exige acompanhamento mais rigoroso. Transaminases, como TGO e TGP, são enzimas importantes para o metabolismo de aminoácidos e, quando seus níveis no sangue se elevam, podem indicar lesões ou inflamações no fígado ou em outros órgãos como coração e músculos. O exame de transaminases é frequentemente usado para avaliar a saúde do fígado, sendo a TGP (ou ALT) considerada mais específica para o fígado, enquanto a TGO (ou AST) está presente em vários tecidos, o que exige avaliação médica para interpretar os resultados corretamente.

Exames além do ultrassom — como elastografia (FibroScan), cálculos como o FIB-4 e avaliações laboratoriais de função hepática e glicemia — ajudam a entender o estágio da doença e orientar o tratamento. Em situações específicas, a biópsia hepática ainda é considerada o padrão-ouro para avaliar inflamação e fibrose.

No fim, a melhor estratégia para eliminar a gordura no fígado não depende apenas de uma ação isolada, mas de um conjunto de medidas que reorganizam o metabolismo, protegem o órgão e reduzem os fatores que alimentam a doença.

Controlar a glicose, perder peso, ajustar a alimentação, tratar a resistência à insulina, usar medicamentos quando necessário e monitorar o fígado de forma adequada são os pilares que sustentam essa reversão.

Fonte: Metrópoles Saúde